PORTUGAL
António Campos Leal, fotógrafo profissional e professor de fotografia.
Químico por formação dedica-se à prática fotográfica desde 1969.
Apaixonou-se pela Fotografia enquanto estudante, o seu curso de Preparador Químico proporcionou-lhe uma formação que sustentou o alargamento de conhecimentos técnicos variados.
Esteve ligado à Comunicação Social durante vários anos.
Na década de 90 deixaria os jornais e colaboraria no arranque de um Estúdio surgido no Porto, passando mais tarde a colaborar com o Departamento de Óptica Electrónica do INESC-Porto.
Trajecto diversificado relativo à divulgação da fotografia, levaram-no ao ensino de diferentes matérias em variadas instituições,dedicadas ao ensino da Fotografia.
A sua aproximação à Fotografia Estenopeica (vulgo pinhole) verificou-se na década de setenta do sec. passado, a que retornaria em finais dos anos noventa e resultando na criação de um grupo de trabalho denominado de clube “buracodeagulha”, dando resposta ao interesse demonstrado por alguns dos seus alunos no curso profissional do Instituto Português de Fotografia – Lisboa.
Assim surge a prática deste processo como matéria extra-curricular a que aderiram alguns alunos e que se desenvolveu ao longo de mais de uma década até à sua saída do IPF.
Organizou diversas oficinas dirigidas a diferentes níveis de praticantes, sendo de destacar quer as oficinas dirigidas a crianças,
Destaca o trabalho desenvolvido na Escola Superior de Educação de Lisboa, “II Encontro do Programa de Formação em Ensino Experimental das Ciências na ESELx” e “Conferência na Escola Superior de Educação de Lisboa”.
Esta conferência foi dirigida a alunos do 2.º e do 1.º ano da Licenciatura em Educação Básica.
Várias foram as conferências realizadas nos espaços FNAC, Lisboa e Porto.A partir de 2002 passou a marcar presença na iniciativa “Worldwide Pinhole Photography Day” passando mesmo a estar ligado à equipa de trabalho da iniciativa e no que à sua divulgação em Portugal diz respeito. Assim fez a ligação com diferentes órgãos de Comunicação Social, através de artigos e entrevistas.
Realizou a exposição “Olhar a Luz”
Realizou o Encontro Internacional “ObidosPinholando” para o qual convidou alguns dos membros da equipa do “Pinhole Day International” os quais aderiram na totalidade. Bem como um significativo número de presenças nacionais.
Integrou a acção “Bordalo e os Contemporâneos, iniciativa da galeria “NovaOgiva” em Óbidos, com o seu trabalho “Bordalo Com Alma” ilustrou fotograficamente a obra de Bordalo relativa à parte expositiva das peças de Bordalo pinheiro.
Realizou uma vasta recolha de imagens, muitas das quais em Fotografia Estenopeica e que deu origem à publicação do trabalho em livro “Luz Nos Livros”, integrado na Colecção Ephemera, da Biblioteca/Arquivo de José Pacheco Pereira e editado pela “Tinta da China”. E que agora mostra no Instantes.
EXPOSIÇÃO: LUZ NOS LIVROS
© António Campos Leal
A fotografia estenopeica, popularizada com a designação anglófona de fotografia pinhole com o aparecimento da internet, é uma apropriação, como técnica fotográfica, do processo elementar da formação da imagem.
A formação da imagem deve-se à passagem da luz por um simples furo, assim atravessado pelos raios luminosos reflectidos por superfícies e volumes. Ao penetrarem através desse furo no interior de qualquer volume escurecido, esses raios luminosos formam uma imagem sobre uma superfície com a possibilidade de reflectir os raios incidentes sobre a mesma. Se nesse interior colocarmos um qualquer sistema sensível, temos a possibilidade de recolher a imagem formada.
Mas como se associou esta forma de produzir imagens fotográficas à representação da Biblioteca/Arquivo de José Pacheco Pereira? De forma evolutiva e em sintonia com uma aproximação ao meu próprio discurso da representação fotográfica. Inicialmente recolhi um conjunto de imagens da forma mais convencional e utilizando uma câmara digital. O envolvimento do espaço e o percurso da luz nesse espaço foram gradualmente alterando a minha leitura do mesmo. Entendo a Biblioteca/Arquivo como uma forma de preservar o pensamento. Logo na fase inicial, e ainda com a câmara digital, o desafio foi encontrar essa relação entre a luz do pensamento e a luz que incidia nas suas superfícies, percorrendo livros, estantes, papéis, objectos e mesas. As fotografias aqui apresentadas são uma representação desse diálogo.
Senti que tinha de lhe adicionar a representação do tempo. E nada melhor do que usar a fotografia estenopeica para que tal acontecesse. Este tipo de fotografia obriga a tempos de exposição longos, que podem ir de alguns minutos a várias horas. Dessa forma, poderia marcar o percurso do tempo. O processo torna-se notório na fotografia em que o relógio aparece sem a marcação dos ponteiros. Nesse caso, as seis horas que durou a exposição do papel à luz tornaram impossível a visão dos ponteiros em movimento.
Foi recolhido um vasto conjunto de imagens que de alguma forma expressavam esse passar do tempo através da luz que percorria os diferentes espaços. Por vezes vê-se o pó, mas não é o pó essa mesma representação do tempo? Noutras situações, imagens quase como fantasmas replicam de forma menos intensa a representação do original. Há um agitar dos elementos representados. Uma portada de janela que alguém abriu ou fechou. Um deslocar da câmara devido a uma corrente de ar mais intensa. Poderei dizer que o que dificultaria a concretização de uma fotografia mais «realista» era para mim uma oferta natural.
O tempo foi muitas vezes representado pela casualidade, pelo acaso. Mas foi por uma casualidade que o trabalho teve início.
António Campos Leal
EXPOSIÇÃO: A JAULA
© António Campos Leal
Um olhar sobre a passagem do tempo e as mutações que a Luz nos propõe. O sentir de alguém que sendo cuidador informal, olha o “lá fora” como algo que vai passando e em que ele não interfere. A recolha da passagem do tempo.