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Carlos Andrés Bernate Martínez é um fotógrafo documental e fotojornalista, trabalhou a favor de  diferentes causas sociais, movido pela paixão e sentido social, formou a sua opinião a partir de investigações minuciosas que fez. Expôs em diversas ocasiões o seu trabalho fotográfico em diversas galerias tanto a nível nacional como internacional e já escreveu e publicou o seu trabalho em vários meios de comunicação conhecidos que circulam amplamente no seu país e no estrangeiro

Com um grupo multidisciplinar, criou o projecto  Tejiendo Memoria, que se preocupa com a actual situação do seu país, Colômbia e procura criar espaços onde possa dar a conhecer o trabalho da sua equipa a contribuir positivamente para a construção de memória. Para ele, o seu projecto pessoal é usar a fotografia como testemunho dos silenciados.

 

RAÚL FOI PARA A GUERRA: QUE DOR, QUE PENA

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© Carlos Bernate

No dia 8 de outubro de 2006, foi morto em combate com a guerrilha o cabo do exército Raúl Antonio Carvajal Londoño

Foi isso que o Exército Nacional da Colômbia divulgou sobre o filho de Raúl Carvajal Pérez. Por detrás dessa morte, porém, há uma trama com capítulos ocultos.

Dias antes de sua morte, o cabo Carvajal ligou para contar que o pai tinha uma nova neta, que em dezembro levaria para conhecer. Mas não falou só isso. Também disse que queria sair do exército porque as coisas “estavam ficando feias”. Segundo o senhor Raúl, ao seu filho e seus companheiros havia sido ordenado o assassinato de camponeses para que eles se passassem por guerrilheiros mortos em combate. O cabo Carvajal não quis cometer o crime e, por esse motivo, acredita seu pai, o mataram.

Carvajal Pérez, pai do cabo morto, iniciou por contra própria uma investigação sobre o caso de 2006.  O que constatou ao longo do caminho foi um conjunto de mentiras. Não há claridade nas versões dos companheiros do cabo sobre o combate e a versão entregue pelo exército sobre o confronto com a guerrilha. Nem coincidem com as versões apresentadas pelas autoridades municipais de El Tarra, norte de Santander, que alegam que nesta data nada de irregular aconteceu por ali.

Segundo informação do tenente Dimir Yamith Pardo Peña, comandante da unidade Destructor Uno, tudo aconteceu “durante a operação Serpiente, que teve início no dia 28 de setembro de 2006, onde participaram a Unidade Destructor Uno, que se encontra agregada a Segunda Divisão, formando a força de ação Divisionária”. Ele acrescenta que “tudo aconteceu sob a liderança operacional do comandante da Segunda Divisão e da Brigada de Treinta, de jurisdição do município de El Tarra”.

Pardo Peña manifestou na sua informação oficial que no dia 8 de outubro de 2006 a unidade citada entrou em combate com a coluna móvel Arturo Ruiz, das Farc. Um enfrentamento em que, disse o tenente, morreu o cabo Raúl Antonio Carvajal Londoño. Esse informe se contradiz com o divulgado pelo comandante da estação de Polícia de El Tarra, Pedro Miguel Mendonza Álvarez, que disse que, nas datas entre 5 e 12 de outubro de 2006, não se registrou nenhuma alteração na ordem pública entre o Exército Nacional e grupos de guerrilheiros.

Da mesma forma, um representante municipal, segundo comunicado, disse que para as datas citadas não foram encontrados registros de nenhuma situação irregular na zona. Levando tudo isso em conta, o senhor Raúl pergunta: o Exército Nacional simulou um combate?

Até agora, ninguém respondeu a sua pergunta, porque, apesar de várias solicitações em despachos judiciais, a procuradoria não iniciou uma investigação. O Instituto Médico Legal declarou que, da sua parte, é impossível saber com claridade com qual arma Carvajal foi assassinado. De acordo com a nota do Instituto, alguns ossos estão ausentes e existe um recorte na parte do crânio, o que indica que o corpo foi manipulado.

A luta do senhor Raúl dura à mais de 10 anos, com protestos em diferentes cidades da Colômbia. Raúl se desfez de seu património para comprar um furgão que encheu de banners em alusão a morte de seu filho, denunciando o governo. Depois do início de seus protestos na cidade de Montería, onde vive, recebeu diversas ameaças. Sua família, com medo, se afastou da causa. Raúl decidiu mudar de cidade e continuar com as denúncias por outras partes do país. Já expôs seu caso em diferentes entidades governamentais e não governamentais com o objetivo de encontrar respostas para a morte de seu filho e recuperar um pouco da tranquilidade perdida. Raúl chegou a desenterrar os restos do filho em Montería e levar até Bogotá, em plena Plaza Bolívar, para pedir que alguém diga a verdade.

Carlos Bernate

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