PORTUGAL
Gabi Pontes | 1970 | S. Miguel – Açores
Desde cedo se interessou pela fotografia enquanto meio de expressão individual, mas só em 2014 se dedicou a esse prazer de uma forma mais séria, estudando fotografia e edição, num formato autodidata e informal, participando em diversos workshops e formações, explorando esses novos caminhos de expressão que nos foram oferecidos pela era digital.
Assume-se como uma amante de fotografia, estando desde 2017 na direção da Associação de Fotógrafos Amadores dos Açores.
Participou em diversos projetos sociais, como: “A Depressão na objetiva de um Fotógrafo”, atualmente em exposição na sede da Ordem dos Psicólogos, Lisboa. Conta ainda com uma exposição individual, em 2016, intitulada “O Sal da Vida”, sobre as semelhanças entre os ilhéus dos Açores e de Cabo Verde. Participou em diversas exposições coletivas, como “Serralves em Festa” e mais recentemente, “A Arte do Cuidar”. É coautora dos livros de fotografia: “Ponta Delgada e os seus 24 Encantos” e “Nordeste, e os seus 9 Encantos”. Foi vencedora do Prémio FNA de 2019, Vila do Conde.
EXPOSIÇÃO: Ínsula
© Gabi Pontes
Ínsula
A Ínsula é um útero,
puro, fecundo e palpitante,
encoberto por um lençol rasgado em mil tiras de neblinas roubadas.
É Ilhoa, mulher caprichosa e sedutora,
espreguiçada no seu leito de águas cálidas,
mordendo a boca à carícia de um raio de sol.
É um grito de raiva incontida,
preso na penumbra dos dias que teimam em não passar,
silenciado nas paredes do tempo erguidas até ao céu,
num grito sufocado, alado, lavado,
levado pelas mãos da maré vazante.
A Ínsula é gente.
Gente temperada de pimenta e sal,
em dias do calor das noites sufocantes.
Gente rija, que se cobre com o manto de verde-mar
E resiste até o frio da tormenta passar.
A Ínsula é fogo, é pedra, é vulcão.
É mar de lava que escorre dos olhos,
em lágrimas roladas de sangue e de sal,
embarcadas daqui para além-mar,
nas leves asas de um pardal.
In “Palavras soltas”, de Gabi Pontes