PORTUGAL | fotografiasapenas.blogspot.com
De Vila Nova de Gaia (1954), vive em Lisboa. Com ligações familiares a Avintes, de onde o seu pai era natural.
Fez o Curso de Formação em Fotografia no Instituto Português de Fotografia, Lisboa (1979/1982).
Foi professor naquele Instituto entre 1983 e 1992.
Expõe desde 1984.
Principais exposições:
1984/85 “Itinerários ou Quase Já Visto”, integrado num grupo de cinco fotógrafos. Exposição itinerante organizada com o apoio do Ministério da Cultura. Entre outros locais, Elvas, Guimarães, Coimbra e Lisboa;
1986 “De passagem” – Edifício GAT/Centro Hospitalar das Caldas da Rainha;
1989 “Olhares do Ocidente – Cinco fotógrafos portugueses” – Fukuoka, Yufuin, Oguni (Ilha de Kyu-Shu, Japão);
1997 “Horas” – Galeria do IPF, Lisboa;
1997 “3 olhares, a mesma luz” – Casino Oceano, Figueira da Foz;
2020 “Lugares Imprecisos” – Fábrica Braço de Prata, Lisboa.
Autor do livro de fotografia “Horas”, edição do Instituto Português de Fotografia, 1997.
Autor do blogue “Fotografias, apenas”, onde tem publicado parte das fotografias feitas a partir de 2008.
EXPOSIÇÂO: LUGARES IMPRECISOS
© António P. Ramos
No dia em que o Ramos me falou pela primeira vez da exposição que pensava fazer, só na mais fotográfica das grandes redes sociais foram carregadas 95 milhões de fotografias. Fui dar comigo a considerar números para lá do déficit e das cativações, a imaginar nuvens metafóricas que me interessam pouco, a recordar textos, antigos de cinquenta anos, a negarem qualquer transcendência à Fotografia, e a perguntar-me de, ainda assim, em alguns de nós, uma persistência.
É como uma linha que se traçou. Uma vereda para quem nos quiser seguir, marcas de um universo simultaneamente material e imaginário. Pelo menos, uma tentativa de, em chão de areia…
Isto se fizermos um esforço, se procurarmos ver além da superfície das imagens. No que a fotografia tem de mais singular. A sua capacidade para nos ajudar a formular perguntas e a procurar respostas, numa dialética com o que nos rodeia. Diálogo apenas pessoal e que se converterá com todos. Perseverança com, invariavelmente, o seu quê de obsessivo.
O avançar do labor dos fotógrafos. Uma insistência, uma repetição, na esperança de que as suas imagens acabem por juntar-se num equilíbrio, que encontrem aquele compromisso sensível que as sustente. Por vezes mais feliz, quando os fotógrafos conseguem evitar imagens que conhecem de si próprios, solução aprendida e rápida para chegar a um fim. Tudo isto, outros já escreveram e explicaram melhor do que eu.
Num tempo de fotografias valorizadas ao metro quadrado, nada mais parece importar do que conceitos e teorias. Espaços fechados sobre si mesmos, repletos de referências mais ou menos elitistas; fotografias sobre fotografias, sobre leituras, num discurso que se valoriza tanto mais quanto se torna intrincado.
Porém, aqui. Criança, espelho, curva. Mar, areia, vento. Apenas aparentemente jogo ou segundo road movie. Procura de outro tempo, vou dizer uma palavra pomposa, primordial.
O Tempo da Fotografia. O da insubmissão do assunto, o do aleatório, o do fenómeno casual. Ou talvez, como disse a Agustina, o único que existe, o da memória. Sinal de dias, num recomeço a cada nova tentativa. Não são analogias nem metáforas.
Escrevi que era uma linha que se traçou. Imagino-a semelhante àquela que desenha e constrói um arco.
Sesimbra, Janeiro de 2020, Miguel Saavedra