PORTUGAL
Website: www.clara-azevedo.com
Born in Lisbon, at the age of 4 moves to Brazil with her parents and brothers. For several years she knows other countries, where she also lives, with more or less long stays, due to her father’s profession, who worked for FAO. Madagascar, Bolivia, Italy, Pakistan, Afghanistan, Kenya are, during some time, her home.
Back to Portugal, she decides to attend IADE course, and shortly after the AR.CO course, to dedicate and concentrate herself totally to photography.
With a scholarship from the Portuguese Cultural Secretary of State, and the sponsorship of the Luso-American Foundation, she develops in 1986 and 1987 a work about the Portuguese community in New England, which gave origin to her first individual exhibition.
In 1987 she begins her cooperation with the newspaper Expresso, where she stays until 1995. At that point she decides to leave and begin as a freelancer.
She worked for several magazines, approaching several themes: report, portraits, interior photography, and travel photography. Her preference are mainly her personal projects in the area of documental photography, which already gave origin to 11 published books.
Actually she is the Official Photographer for the portuguese Prime Minister, António Costa.
EXPOSIÇÂO: Under skin
© Clara Azevedo
Rasgar o corpo da pele como um bisturi onde regurgita o sangue e se desenham territórios e países feitos de cicatrizes.
Desde sempre e há muito, símbolos e signos são sinais evidentes da pátria dos poros onde a carne rasgada é a marca da geografia que veste a derme.
É nesse vestir que se abre o despir e se revela a persona e a alma da pele.
Rupestres pinturas habitam a ritualidade da passagem e seu veloz ciclo terreno. O grito e a voz.
Depois o corpo e a carne desaparecem. Sucumbem. Permanecem na memória o mapa, caminhos e significados. Desenho da obra no corpo. Seu manto com um templo do tempo sagrado e profano.
São e insano.
A dor do corte e o prazer da penetração da agulha dilaceram a pel e quando surge a taxidermia plena, tendo o corpo da alma como a alma do corpo.
Quando iniciava a reflexão e mergulhava neste trabalho tattoo, duas questões me surgiram de imediato: índios e negros que em sua ancestralidade já o faziam como modo de ser e estar e o filme “ Livro de cabeceira” do genial artista Peter Greenway.
Contudo, Clara Azevedo atinge mais que ásperas metáforas no seu cortante e incisivo olhar. Além de extremamente perturbadoras e instigantes, as obras deste novo conjunto da fotógrafa, atingem uma subtileza, delicadeza e elegância de extremo requinte na sua construção e interpretação assim como na regência do domínio técnico. Impossível ficar passível ou isento.
Renasce e ressurge na música das veias em carne viva, plantando e desenhando a transpiração do espírito de cada um. A liturgia do corpo com espelho.
Há um transfer e uma ferida na poética na leitura dos signos, códigos e ideias que percorre à flor da pele.
É sem dúvida a mais bela e noturna flor que rasga os espinhos do cacto que assina com sangue suas prints e seu olhar em sal.
Por outro lado, cabe ao fotógrafo tatuar o tempo com a marca do ritual e a regência do registo.
Quando a print levita, sobe à parede e se oferece ao olhar outro, se grava no tecido do tato visual uma transcendente tattoo sem qualquer tabú, num novo e desafiante território e universo. Interpretação como canção.
A grande viagem misteriosa e tão pessoal da tatuagem. Suas marcas, seu significado no recriar de novas rotas, rostos e labirintos. O corpo marcado e escrito – museu vivo de emoção – onde pulsa o coração de um relógio do tempo ausente.
A pátria da arte. Casulo e ninho tecem significados e bordados. Diversos.
Fotografar é tatuar com luz.
Orlando Azevedo Fotógrafo, curador e editor