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Nasceu em 1949, na Ilha Terceira, em Açores/Portugal.

Vive no Brasil desde 1963. É formado em Direito.

Dedica-se profissionalmente à fotografia documental em projetos especiais, assim como à criação autoral, no seu estúdio em Curitiba.

Especializado em expedições e projetos de longa duração.

Editor e curador.

Utiliza dois outros heterônimos – Yury Andropov e Jacob Bensabat – para outros temas dentro da diversidade de sua produção.

Obras em acervo

International Center of Photography, em Nova York; Centre Georges Pompidou e Museu Francês de Fotografia, em Paris; Museu de Arte de São Paulo; Museu de Arte Moderna de São Paulo; Instituto Cultural Itaú; Museu de Fotografia Cidade de Curitiba; Empresa Portuguesa das Águas Livres, em Lisboa; Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro; Museu Afro Brasil, em São Paulo; MON – Museu Oscar Niemeyer, em Curitiba; Fototeca de Cuba, em Havana, além de várias importantes coleções privadas nacionais e internacionais.

Livros publicados

2019 – Mestiço – Retrato do Brasil

2017 – Augusto Weiss 1890/1990

2014 – Rio Grande/RS

2012 – Expedição Coração do Brasil – Paranaguá, Lagamar

2010 – Marinhas – Arqueologia da Morte

2008 – Expedição Coração do Brasil – Paraná

2004 – Brennand

2004 – Sudarium

2002 – Iguaçu

2002 – Coleção Coração do Brasil (três volumes: Homem, Terra e Mito)

1994 – Jardim de Anões

1987 – Fitas e Bandeiras Venske

De 1993 a 1996, foi diretor de Artes Visuais da Fundação Cultural de Curitiba. Criou a Bienal Internacional de Fotografia e o Museu de Fotografia Cidade de Curitiba.

Entre as dezenas de curadorias, realizou a I, II e III Bienal Internacional de Fotografia Cidade de Curitiba e a exposição “A Revolta”, do artista Frans Krajcberg, com mais de um milhão de visitantes durante o ano de 1994.

Em 2009 lançou o livro “Haruo Ohara”, sobre a obra desse fotógrafo imigrante japonês, pioneiro da cidade de Londrina e agricultor.

Em 1985, foi a vez da “Encyclopèdie Internationale des Photographes – Editions Camera Obscura”, na Suíça, com CD editado, posteriormente, em parceria com a Maison Européenne de la Photographie, 2000.

Foi foco de dezenas de matérias especiais e entrevistas para jornais e revistas nacionais e internacionais.

Participou de diversas exposições individuais e coletivas.

Colaborou com inúmeras revistas no Brasil e no exterior.

Tem integrado júris e comissões de análise de portfólios, proferido palestras e elaborado textos críticos de artistas no Brasil e no exterior.

Entre 1994 e 1998 foi diretor de Artes Visuais de Curitiba, quando organizou, como curador, dezenas de mostras com artistas nacionais e internacionais.

A mostra “A Revolta”, de Frans Krajcberg, obteve mais de um milhão de visitantes durante o período de um ano no Jardim Botânico de Curitiba.

Criou a Bienal Internacional de Fotografia Cidade de Curitiba em três edições, sendo que a partir de um importante acervo de fotos que foi constituído deu origem à criação do Museu de Fotografia Cidade de Curitiba, do qual foi idealizador.

Em 1998 foi considerado artista português de destaque no universo das artes visuais residente no Brasil, através do Ministério das Relações Exteriores e da Secretaria das Comunidades Portuguesas, em Portugal.

Em 2003, recebeu o Prêmio Talento do Paraná.

Em 2005, a Câmara dos Vereadores de Curitiba conferiu Certificado de Honra e Mérito à sua participação na Comunidade Portuguesa em Curitiba e na cultura local.

Em 2007, recebeu o Prêmio Cultura e Divulgação Cidade de Curitiba. Também em 2007 foi um dos três finalistas mundiais, entre portugueses radicados no exterior, no campo das artes.

Em 2010, foi convidado pela Embaixada do Brasil em Sri Lanka, por meio do diplomata Pedro Bório e do Itamaraty/Ministério das Relações Exteriores, para expor e dar palestras em Colombo (Sri Lanka) e em Mumbai e Delhi (Índia).

No ano de 2013, ministrou palestra em Lisboa, no PhotoBook, no LX Factory.

Em 2014, deu palestra na Biblioteca Municipal de São Miguel (Ilha de São Miguel/Açores).

Entre 2014 e 2018, criou o curso intensivo Fotografia Visceral, junto com a Escola Portfolio, e iniciou a organização de seu acervo/museu, com 160 mil matrizes analógicas e mais de 300 mil digitais, além de centenas de impressões vintage em prata.

Expedição Coração do Brasil

Foi idealizador e coordenador da “Expedição Coração do Brasil”, realizada de abril de 1999 a julho de 2002.

Percorreu 70 mil quilômetros de todo o território nacional num jipe fotografando o país. Esse projeto resultou em exposições no Brasil e no exterior, além da publicação dos livros “Homem”, “Terra” e “Mito”, integrando a coleção “Coração do Brasil”, que se encontra completamente esgotada.

Em 13 de setembro de 2005, iniciou a “Expedição Coração do Paraná”, com término em abril de 2006.

A “Expedição Coração do Paraná” foi uma continuação de “Coração do Brasil”, interminável projeto de vida e de documentação do patrimônio humano e natural do país. Nesse novo ciclo percorreu, também em veículo 4×4, mais de 20 mil quilômetros.

A “Expedição Coração do Paraná” resultou num invulgar documento visual que gerou mostra apresentada no Museu Oscar Niemeyer (MON) com cerca de 200 imagens processadas e elaboradas museologicamente pelo printer Silvio Pinhatti. Posteriormente, lançou a edição do livro “Expedição Coração do Brasil – Paraná”, obra trilíngue com 634 páginas em acabamento de luxo.

Em maio de 2011, iniciou a nova expedição do projeto “Coração do Brasil – Paranaguá, Lagamar”, quando permaneceu por um período de 12 meses numa embarcação percorrendo toda a região entre Guaraqueçaba, no Paraná, e Iguape, no Estado de São Paulo, documentando a cultura caiçara, assim como esse importante complexo e estuário do Lagamar. Hoje esse livro é referência do IPHAN através de Amyr Klink.

Em novembro de 2012, lançou a obra “Expedição Coração do Brasil – Paranaguá, Lagamar”, junto com mostra em sua Galeria Lux, em Curitiba. Essa mostra encontra-se em caráter permanente dentro do Forte da Ilha do Mel.

Em setembro, outubro e novembro de 2014 realizou a expedição ao arquipélago dos Açores, onde documentou seu patrimônio natural e humano, percorrendo as nove ilhas de sua saga. Pretende editar novo livro com o material produzido.

Em 2015, dedicou o ano a editar e tratar “Cósmica”, “Escombros”, “Mestiço”, “Outro”, “Jardim de Anões”, “Açores”, “Brasil Pop” e “Fotografite”, visando à publicação de novos livros e mostras.

Em 2016, apresentou a mostra “Ruínas”, no Museu Municipal de Arte de Curitiba (MuMA), onde assumiu seu novo heterônimo Jacob Bensabat para este trabalho e série dentro da diversidade e multiplicidade de sua obra, assim como na Casa dos Contos, em Ouro Preto; “Fotógrafos”, também em Ouro Preto.

Participou da mostra “Portugal, Portugueses”, com curadoria de Emanoel Araújo, no Museu Afro Brasil, em São Paulo, onde se apresentaram os mais importantes artistas portugueses contemporâneos do mundo.

Publicou, em 2017, livro histórico de Augusto e Alberto Weiss (pai e filho), a partir de sua coleção privada de chapas de vidro de 1880 a 1990, com diversos temas e registros do começo da colonização e seus novos imigrantes, sendo que, depois, esse mesmo acervo foi transferido em caráter definitivo ao IMS/Instituto Moreira Salles.

No dia 23 de maio de 2018, inaugurou, no Narrows Center of the Arts, em Fall River, Massachusetts/ EUA a mostra “Ruínas”.

Em outubro de 2018, inaugurou a mostra “Terra Mater”, em caráter permanente, na Ópera de Arame, em Curitiba.

O ano de 2018 foi dedicado quase que exclusivamente à edição final e diagramação dos novos títulos/livros a serem publicados: “Mestiço – Retrato do Brasil”; “Cósmica”; “Açores, Divino”; “Câmara Ardente”; “Ruínas”; “Jardim de Anões” e “Selfie-se Quem Puder”, contendo três obras realizadas com iPhone – “Diário de Bolso”, “Deleite” e “Estranhas Entranhas”.

Participou da Mostra Paraná, em abril de 2019, como artista convidado para reabertura do Museu Campos Gerais, da UEPG, em Ponta Grossa.

Em 2019, lançou sua nova obra, “Mestiço – Retrato do Brasil”, com 450 retratos em PB de brasileiros anônimos do Chuí ao Oiapoque.

 

EXPOSIÇÂO: MESTIÇO – retrato do Brasil

© Orlando Azevedo

O BRASIL CARA A CARA

Ao cantar “Brasil, mostra tua cara”, o incendiário Cazuza estava desafiando o país a enfim se desvelar, rompendo o véu da hipocrisia para apostar na transparência, nem que fosse por um dia. Era 1988 e tínhamos saído de 20 anos de chumbo para mergulhar em cinco anos de marasmo (e de Sarney) e, a seguir, chafurdar nos breves anos de lama da Era Collor. Por isso, podemos dizer que o pobre bardo carioca de língua presa e versos soltos pregou no deserto: saiu da vida para entrar na história sem ter visto seu adágio se materializar. O Brasil continuou vestindo a carapuça, escondendo-se de si mesmo.

Já Orlando Azevedo, artista de outra cepa, de outra geração e de outra arte – mas com a mesma verve e as mesmas chamas circulando nas veias abertas – decidiu ir às ruas (e às escolas, aos campos e construções; às chapadas e aos chapadões, aos vales dos rios doces e dos valões amargos, às vilas dos confins e às cidades das letras) propondo a si próprio e ao país o mesmo desafio. E, desde o início da jornada, se sua câmera fotográfica falasse, ela haveria de gritar aos quatro ventos, nos quatro cantos da nação, uma única e mesma frase: “Brasil, mostra tua cara”.

Embora o projeto e a proposta de Orlando trouxessem consigo bem menos rancor e, em vez do dedo acusador, ele tenha preferido manter o dedo no obturador, sua tarefa não foi menos revolucionária do que a do poeta. Além de ter sido bem mais trabalhosa, mais vasta e mais ampla. E, é claro, mil vezes mais… reveladora. Porque os retratos de Orlando Azevedo reunidos neste volume soberbo nos revelam, desvendam e desvelam um Brasil de milhares de caras e bocas, de fuças e fatos e faros – um universo de diversidade urbana e rural; um oceano de cores e nomes que, como diz o clichê, se esparrama mesmo do Oiapoque ao Chuí. E basta ir virando as páginas, sem que os retratados nos virem o rosto, para perceber que estamos diante de olhares que trazem uma enxurrada de indagações sem resposta – bem como respostas que prescindem de perguntas.

Pois em sua essência alquímica, o livro “Mestiço” é o Brasil mostrando sua cara, a pleno e em muitos planos. E, também dizendo, em cada olhar congelado, qual o seu negócio e qual o nome de seu sócio, disposto a deixar claro quem pagou quem pra gente ficar assim.

“Mestiço” é preto no branco. “Mestiço” é tudo junto misturado. “Mestiço” é moreno, é caboclo, é zambro, caboré e cafuzo. “Mestiço” é confuso, mas se entende. “Mestiço” é misto e mameluco. “Mestiço” é doido e doído, só que não está nem um pouco maluco. “Mestiço” é crioulo, é pardo, pardavasco e pardacento – mas nunca será parvo. “Mestiço” é a cabrocha que tanto amamos, nos retalhos e nos retratos. “Mestiço” é um beijo na face e um tapa na cara. “Mestiço” é uma mistura, mas diz ao que veio: chegou para explicar o que sempre esteve na cara.

E, se você quer mesmo saber, então eu revelo: Orlando Azevedo é um cara de pau, um cara dura, capaz de meter as caras em todas as quebradas, sem quebrar a cara e sem dar murro em ponta de faca, embora algumas de suas fotos sejam quase um soco… bem, você sabe onde. Mas, como você verá, este é um projeto caro para ele – no sentido de querido e estimado, é claro; não no sentido do valor, do preço e do gasto, que isso nunca fez parte da conta. E era projeto há muito acalentado, pois aqui está uma carreira inteira posta em fila e em perspectiva, já que nas páginas que se seguem o país todo desfila sem nunca ter sido um país modelo. Eis aqui um país transcendente e real – mas, também, noutras instâncias, um país corrupto até a medula. Em suma, um país duas caras.

Mas, além do dedo no gatilho-obturador, Orlando Azevedo bota o dedo na ferida e a boca no trombone, soando o toque de despertar para ver se o Brasil enfim acorda. Nascido nos Açores, transplantado para o Brasil, o fotógrafo fixou raízes na terra do pau-brasil e aqui já fez as vezes de herói de mil faces – se não a dele própria, que é só uma, e que olha no olho, com certeza as faces e as fases, os rostos e os gostos de sua nação de adoção: este Brasil cara e coroa, de moedas falsas que não valem um vintém furado, mas também de tantos tesouros escondidos em olhares reluzentes. Um Brasil de cara limpa ou de cara pintada. Sim, caras indígenas, tingidas para a guerra, mas que também poderiam ser aquelas que derrubaram o presidente tecnicolor, que só conhecia a cor do dinheiro. Um Brasil sem maquiagem, de cara e alma lavadas.

“Mestiço” é Brasil primitivo e primordial. É um álbum feito de caras peludas e caras lisas, caras sob cocares ou sob chapéus. Caras de carecas e de cabeludos, com cara de superação, com cara de dor, com cara de quem comeu e não gostou, com cara de quem venceu na vida e mesmo assim tem cara de poucos amigos. Cara de macho, seu cabra da peste, mas também caras metades. Ah, e tem também cara de um, focinho do outro… Mas, acima de tudo, o que vemos é cara de quem labuta, cara de um povo sempre forçado a ir à luta.  Pois, aqui, quem vê cara também vê coração. Afinal, Orlando Azevedo nos deixou cara a cara com o Brasil.

EDUARDO BUENO,

Porto Alegre, triste outono de 2019

 

 

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