HONDURAS | http://www.xk3foto.com
Xacobe Meléndrez é um fotógrafo galego nascido em 1963, em Teguciagalpa (Honduras). Com dois anos foi para a Galiza, terra de seu pai, onde mora desde então.
Usa a linguagem da fotografia, vídeo e instalações para transmitir sentimentos, sensações e preocupações, fortemente entrelaçadas numa análise social do seu meio ambiente.
Desde o ano 2000 expõe regularmente, acumulando mais de 60 exposições, individuais e colectivas, nacionais e internacionais (Espanha, Itália, Portugal, Cuba, México, China), participando também em vários fóruns de fotografia.
Já publicou em várias revistas e jornais (Fotografia, Natureza Galega, deViajes, Arte Fotográfica, A Nosa Terra, Tempos Novos, Galegos…).
Recebeu entre outros, o 1º prémio do II Concurso de arte do Ministério do Meio Ambiente 2007 (fotografia) e o 1º prémio do II Concurso da fotografia de desporto, cidade de Santiago, 1998. Em 2013, a sua vídeo-criação “Mentiras” foi seleccionada para a 13ª Mostra Internacional do M.A.C.
Faz parte do colectivo “arTeu”, que visa a busca de novos caminhos para a comunicação artística, onde tem curadoria de inúmeras exposições e outros eventos (Enarborar no Bosque, paralelo 43° 21´ 45´´ , “Outono Fotográfico 2011”, “…na espera”…)
EXPOSIÇÃO: NINGUÉNS, DIMINUTOS, INOCENTES
© Xacobe Meléndrez
A cultura e o grande avanço da humanidade – desde os tempos primitivos até o presente – baseiam-se muito mais na cooperação que na competição.
No início é a empatia, a capacidade de colocar-se no lugar do outro e, posteriormente, é a necessidade da comunidade proteger os mais fracos (crianças, pessoas doentes, idosas, aleijadas, maltratadas, refugiadas…) que nos coloca na parte mais evoluída da sociedade.
Nessas fotografias, tento concentrar o interesse sobre os mais ínfimos seres com quem vivemos, esses são os animais mais pequenos com quem podemos simpatizar.
São apresentados já com cadáveres lembrando o curto espaçamento da vida, “Tempus fugit”, no que poderia ser considerado um oxímor fotográfico. São vítimas inocentes que ficam presas em artifícios que não entendem, são atropeladas pela pressa humana, morrem como presas de outros animais, ou como consequência da fome ou da temperatura.
“Inocentes – Diminutos – Nadies” está situado na metáfora. Àssim como Eduardo Galeano (Los nadies – El libro de los abrazos) esta série reflete numa perspectiva artística, separa o véu que uma parte da nossa sociedade colocou naqueles que dia a dia se aproximam dos seus esforços para nos empurrar para um mundo melhor e que tendem a ser cobertos pela história oficial, que também esconde aqueles que acabam sendo vítimas dele.
OS NINGUÉNS
As pulgas sonham em comprar um cão, e os ninguéns com deixar a pobreza, que em algum dia mágico de sorte chova a boa sorte a cântaros; mas a boa sorte não chova ontem, nem hoje, nem amanhã, nem nunca, nem uma chuvinha cai do céu da boa sorte, por mais que os ninguéns a chamem e mesmo que a mão esquerda coce, ou se levantem com o pé direito, ou comecem o ano mudando de vassoura.
Os ninguéns: os filhos de ninguém, os donos de nada. Os ninguéns: os nenhuns, correndo soltos, morrendo a vida, fodidos e mal pagos: Que não são embora sejam. Que não falam idiomas, falam dialetos. Que não praticam religiões, praticam superstições. Que não fazem arte, fazem artesanato. Que não são seres humanos, são recursos humanos. Que não tem cultura, têm folclore. Que não têm cara, têm braços. Que não têm nome, têm número. Que não aparecem na história universal, aparecem nas páginas policiais da imprensa local. Os ninguéns… que custam menos do que a bala que os mata.
Eduardo Galeano “El libro de los abrazos”
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